Dallier e o Morro da Conceição

Veja meu outro blog de crônicas. http://dalliercronicas.blogspot.com

24.6.06


ESSE RIO ONDE NASCI , TEXTO DE DALLIER

A velha casa onde nasci , ainda teima em continuar de pé, fica situada em uma pequena rua de nome “Estela “ e tem uma placa de n, 28 presa em uma de suas paredes externas. Fica lá , no finalzinho da Pacheco Leão, hoje uma rua bastante conhecida por ter se tornado um reduto televisivo
Foi nesse bairro chamado Jardim Botânico, cujo trecho onde
nasci , foi apelidado de Itália pequena. que vivi minha vida , até alcançar a maior idade , de ter servido o exército ( Escola de Educação Física ) com breve período de ausência , como quando fomos morar na Praça Mauá em uma velha casa construída por meu avô paterno em l904 e ainda também de pé ) de n. 52 , na Ladeira João Homem , onde espero voltar a viver.
Quando tento mergulhar no fundo do poço de minhas memórias , as primeiras imagens que surgem em minha mente, são as de uma manhã de natal lá pelos idos de 1936 . quando eu acabara de completar 4 anos de minha existência nesse mundo de Nosso Senhor Jesus Cristo.- De manhã ao acordar encontrei junto a cama um carrinho de mão de madeira ( parecido com os que são usados em obras ) e dentro dele uma boneca ( brinquei com bonecas até os 7 anos ) . Horas depois , lembro-me bem do meu avô materno e sua oitava mulher ( que eu e meu irmão mais velho – éramos apenas dois ) fomos acostumados a chamar de avó. Quando os avistei subindo a Ladeira comecei a gritar – Lá vem vovô , - lá vem a lingüiça do vovô ! – pois sempre que ele vinha nos visitar trazia como seu cartão de visitas uma lata de lingüiça “Olderich “ em conserva e alguns ovos caseiros . Não me lembro de ter ganho dele um brinquedo .
Outras lembranças dessa época surgem descompassadas , doenças nos olhos , febres constantes, queimaduras no corpo com café fervente e o acidente que tive no dia em que , minha mãe eu e meu irmão íamos visitar amigos no bairro onde nasci. Estávamos descendo a ladeira ; lembro-me bem.Meu irmão e eu vestíamos roupas novas de seda branca com botões de madrepérola ; ao olhar para um papa-vento no alto de um sobrado , veio o tombo , quebrei o queixo e fui levado para o pronto-socorro por uma tia do lado paterno de nome Rosa ( Já que eu tinha duas tias do mesmo nome de lados opostos ,morando na mesma casa ) onde levei vários pontos. Lembro-me também dos ônibus de dois andares da light que faziam o percurso Praça Mauá – Jockey Club . Das visitas que fazíamos ao auditório da Radio nacional para ver de perto Batista Junior ( era pai de Linda e Dircinha ) e seus bonecos falantes.
Também o carnaval daquela época contagiava toda família ( esqueci de dizer que dividíamos a casa com mais quatro irmãos de meu pai e suas respectivas famílias. Fantasiados descíamos a ladeira rumo à Avenida Rio Branco para assistir o desfile de carros abertos , que carregavam foliões que espalhavam confétis , serpentinas e lança- perfumes ( naquela época não era proibido ) e parávamos na extinta Galeria Cruzeiro, onde os bondes que chegavam, traziam dezenas de carnavalescos vindos de todas as partes e que se juntavam na avenida , formando um grande bloco contagiante onde a pura alegria reinava nos quatro dias de momo .
Costumávamos , nós os moradores do Morro da Conceição, à participar do banhos à fantasia na Praia do Flamengo, Íamos todos descendo o morro e tínhamos também nossos carros alegóricos que eram empurrados pelos participantes e em determinado ano eu saí em um deles vestido com roupa de papel crepom , como ajudante de motorista que era um primo da mesma idade de nome Ézio , E lá íamos nós em nosso carro de madeira empurrado por familiares enquanto todos dançavam e cantavam ao som das antigas marchinhas .
A primeira lembrança do bairro onde nasci é de quando com seis anos já pertinho dos sete, nos mudamos de volta. É o caminhão de mudanças chegando a Rua Lopes Quintas , e a velha e pequena casa em que fomos morar. Foi nesse dia em que eu conheci Lucilia ( onde andará ? ) a primeira paixão de menino que durou alguns anos até que ela veio a conhecer àquele que viria a ser seu marido.
Aos domingos freqüentávamos as matinês do Cinema Floresta , que fizeram surgir em mim a paixão por Alice Faye. Via a revia seus filmes ( muitas vezes as escondidas ) alguns ( 3 ) ao lado da brasileiríssima Carmen Miranda.
Só mais tarde , já adolescente surgiria em mim uma nova e definitiva paixão- Emilinha Borba. Era com ansiedade que esperava os sábados para ouvir a voz de César de Alencar anunciar - A minha , a sua , a nossa favorita -Emilinha Borba.
Continúo afirmar que junto com a minha mãe foram elas que nortearam a minha vida, e , até hoje estão presentes no meu dia a dia , através de lembranças , discos e filmes , que ouço e . vejo para diminuir a solidão e fazer dela uma boa companheira .

3 Comments:

  • At 10 julho, 2006, Anonymous Anônimo said…

    Ao meu tio querido, artista maravilhoso!!
    Não conhecia estas histórias de sua vida e tenho certeza que tem outras tão maravilhosas para contar. Embora nos vejamos as vezes não tenho com o Senhor tal intimidade de ter estas conversas mas admiro o seu trabalho acho lindo, é pena que não possa lhe ajudar devido os meus afazeres de minha vida devido aluta pela sobrevivencia. Queria ter mais tempo e possibilidades de lhe ajudar na divulgação de seu trabalho , no que puder pode contar comigo.

    um abraço apertado Leila e Davi
    Parabéns.

     
  • At 14 fevereiro, 2007, Anonymous Anônimo said…

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  • At 05 março, 2007, Anonymous Anônimo said…

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